Exalted está sendo o carro chefe da White Wolf juntamente com o Vampire: Requiem, ao menos em número de venda, e que conquistou muitos fãs desde o lançamento da primeira edição em 2001. Misturando fantasia medieval com influências bem diferentes do D&D, ele tem um clima completamente diferente do feijão-com-arroz do que você está acostumado. Nada de elfos saltitantes ou anões rabugentos, e se você acha que os personagens de 1º nível de D&D4E são poderosos, espere para conhecer Exalted.
O Exalted é um sistema de fantasia medieval épica, que usa as regras do antigo World of Darkness ligeiramente modificada, o mesmo sistema que o Scion.
Ao contrário do D&D, os criadores do Exalted evitaram explicitamente tomar o J. R. R. Tolkien como inspiração, e usaram como base para a fantasia medieval muita coisa da cultura e mitologia oriental, com influências que vão desde H. P. Lovecraft, mitologia grega e até animes como Ninja Scroll. O resultado é um dos cenários mais ricos que já tive o prazer de ler e que consegue transmitir com facilidade o que ser “épico” significa.
No livro básico, o foco é nos Solares, um dos tipos de Exalted, como personagens jogadores, além de detalhar o cenário e as regras básicas, e dar um esboço dos antagonistas. Em outros livros da série, os outros tipos de Exalted são mostrados com mais detalhes e podem ser usados também como personagens jogadores.
Todas as regras e qualquer conversa sobre Exalted vai envolver de alguma forma o rico cenário descrito no livro básico, portanto qualquer resenha que não comente sobre ele vai estar incompleta.
Resumo do Cenário
No início dos tempos existiam apenas os Primordiais, seres formidáveis que flutuavam no caos infinito, que posteriormente seria chamada de Wyld. Eles criaram então o mundo chamado Creation (Criação), um lugar plano e baseado nos cinco elementos – madeira, ar, água, fogo e terra. Eles então criaram todos os seres vivos, e posteriormente deuses para cuidar da Criação. Chefes entre os deuses eram chamados de Celestial Incarnae, os deuses mais poderosos. Os Primordiais então se retiraram para se dedicar a uma misteriosa atividade, chamada de Games of Divinity.
A paz reinou por milênios, mas com o tempo os deuses começaram a sentir inveja dos Primordiais e do poder que eles lhe negaram – os deuses eram proibidos de lutar contra os Primordiais diretamente. Para conseguir superar os seus criadores, eles deram parte de seus poderes a seres humanos, chamados Exalted. O deus Sol, mais poderosos entre os deuses criou os Solares, a Lua criou os Lunares, as Cinco Donzelas criaram os Silderals e os Dragões Elementais criaram os Dragon-Blooded, único tipo de exalted que passa seu poder para seus descendentes.
Os Exalted então passaram séculos lutando contra os Primordiais, e venceram. Os Primordiais derrotados foram presos dentro do corpo de seu próprio general, Malfeas, e são conhecidos como Yozis. Os que foram mortos são conhecidos como Neverborn. Vitoriosos, os deuses ascenderam para a cidade-paraíso conhecida como Yu-Shan para se dedicar ao Game of Divinity, e deram a governança de Criação para os Exalted. Os Solares teriam o poder supremo, com os Lunares sendo seus generais e companheiros, os Siderals como conselheiros e os Dragon-Blooded como infantaria e burocratas geral.
Como é comum em outros jogos da White Wolf, os protagonistas sofrem de um defeito. No caso do Exalted, esse defeito é chamado de “Great Curse” (A Grande Maldição), que foi colocada pelos Primordiais ao serem derrotados. A Grande Maldição se manifesta de várias maneiras, mas pode-se dizer que ela faz com que os “heróis” ajam de forma falível e decadente, e que são corrompidos pelo próprio poder. Esse foi o destino dos Solares, onde acabaram loucos pelo seu próprio poder. Por esse motivo o reinado dos Solares foi destruído pela maquinação dos Siderals junto com os Dragon-Blooded chamada de Usurpation, onde após séculos de planejamento resultaram em um ataque fulminante onde todos os Solares foram mortos e os Lunares expulsos para a borda da Criação, na divisa com a Wyld.
A “essência” exaltada de cada herói que morre é passada para outra pessoa, de forma que os Exalted acabam revivendo em um novo corpo, com alguns traços de lembrança da vida passada. A exceção a essa regra são os Terrestrial Exalted, também conhecido como Dragon-Blooded, onde a essência está em seus sangues, e portanto passam para seus descendentes. A grande maioria das “essências” dos solares foi trancada em uma prisão chamada Jade Prison, para que não conseguissem reencarnar. Os que sobraram eram caçados por um tipo de cruzada chamada Wyld Hunt logo após exaltarem. Iniciou-se então uma cultura onde Solares e Lunares são odiados e temidos, chamados coletivamente de Anathema e inimigos da ordem. Os Dragon-Blooded governaram então Criação em um sistema parecido com o Xogunato do Japão feudal, e os Siderals se refugiaram em Yu-Shan para apenas manipular de longe e servir como conselheiros ocultos dos Dragon-Blooded.
Alguns séculos depois, criaturas desconhecidas chamadas de Deathlords surgiram e fizeram uma enorme praga mágica que dizimou 90% da população em pouco tempo. Como se não bastasse, ao mesmo tempo uma grande invasão de seres da Wyld chamados de Feyfolk atacou Criação. Quando tudo parecia perdido e a Criação parecia condenada, uma Dragon-Blooded conseguiu ativar as defesas do Império construídas pelos solares, que mandou de volta os Feyfolk para onde eles vieram. Essa Dragon-Blooded se denominou Imperatriz Escarlate e governou a criação por 800 anos com um vasto império de Dragon-Blooded por trás.
No entanto, algo aconteceu com a Jade Prison, e de repente todos os Solares que estavam presos voltaram a exaltar. Deathlords voltaram a aparecer na Criação, dessa vez comandando exércitos e criando shadowlands, com generais sinistros conhecidos como Abyssais, que são Solares corrompidos. Ao mesmo tempo, a Imperatriz Escarlate desaparece, e deixa o Império a beira de uma guerra civil para a sucessão do trono.
E é aí que o jogo começa, 5 anos após o desaparecimento da imperatriz. O livro básico detalha os exaltados mais poderosos, os Solares, e tem o rico cenário da Criação para a exploração. Caçados como demônios pelo Império, eles precisam sobreviver e conquistar seu espaço, antes de conseguir sobrepujar seus inimigos.
O livro deixa bem claro que não existe limite para aventuras no cenário. Propositalmente este meta-plot do desaparecimento da imperatriz é deixado em aberto, pois com PCs tão poderosos em comando qualquer coisa pode acontecer.
O Sistema
A criação de personagem é bastante similar a outros jogos da White Wolf, com os solares divididos em “castas”, análogo aos clãs de Vampiro e tribos de lobisomem, porém no Exalted (assim como no nWoD) elas são muito menos estereotipadas, que é ótimo na minha opinião. Virtudes, background, pontos de bônus, está tudo aqui.
O sistema usa o conhecido sistema storyteller ligeiramente modificado. As rolagens têm dificuldade fixa, como o novo World of Darkness, porém o valor é 7. Os atributos são os antigos, e o sistema conserva a maior parte das outras características, como as rolagens em Atributo + Perícia, níveis de vitalidade, etc.
O sistema de combate é interessante porém complexo, não existem turnos e sim “ticks”, onde a velocidade da ação determina quando você vai agir novamente. Existem também regras para combate em massa (o que é um grande bônus pra mim) e “combate social” – uma mecânica bastante criativa apesar de um tanto crunch para diplomacia, interrogação, intimidação, debates e comércio.
Como regra adicional para deixar o cenário mais épico e cinematográfico, existe a regra de stunts - dados adicionais para testes em que o jogador caprichar na descrição. Usando stunts pode-se até fazer o impossível, como aparar uma espada com as mãos, desde que a descrição seja convincente e empolgante para o mestre. Como não gostar disso?
Os poderes dos Solares são representados por “charms”, de forma semelhante a magias de D&D, que são usadas gastando essências, uma forma de energia mágica ou mana. E é aqui que estão os maiores acertos e falhas do sistema. Os charms são bem explicados e claros, além de tomarem uma boa parte do livro para si. São divididos em formato de árvore com seus pré-requisitos, e existe uma árvore de charms para cada perícia do sistema. São nos charms que você percebe o quão poderosos os Solares são, podendo dobrar uma rolagem de dado, ficar invisíveis, comandar multidões com o olhar, e até saltar montanhas. O defeito fica com a quantidade deles – são muitos, e criam um verdadeiro nó em jogadores iniciantes e nos mestres, que precisam de todos eles para seus antagonistas.
E esses são apenas os charms dos Solares – cada tipo de exalted tem seus próprios charms, descritos em outros livros específicos. Preparar NPCs não é tão complicado quanto no D&D3.5, mas não fica muito atrás.
Os charms podem ser usados uma vez por ação, então para se usar vários deles ao mesmo tempo existe a mecânica de combos – você pode combinar um charm de ataque com um de defesa, por exemplo, para não ser pego desprevenido.
Outro defeito do sistema é que se você já precisava de 10-15 dados para jogar Vampiro ou Lobisomem, você vai rapidamente descobrir que esse número é insuficiente para uma partida típica de Exalted com Solares. Um solar especializado consegue fazer ataques com 25 dados ou mais, e às vezes faz mais de um ataque desses por vez.
O livro do Exalted é uma mina de idéias, com inspiração que faz com que qualquer mestre se encha de vontade de mestrar logo. O cenário é maleável, rico, profundo e gigantesco, com fartas oportunidades para aventuras épicas. Destruír cidades, construir seu próprio reino, enfrentar deuses, formar seu próprio exército – não existe limite para os feitos dos personagens.
A arte do livro também não deixa nada a desejar – ao menos se você aprecia a arte japonesa. Com 390 páginas, ele é ricamente ilustrado em estilo manga, com ilustrações que vão desde “boas” até “estonteantes”, todas coloridas. Cada início de capítulo é iniciado por uma história em quadrinho ao invés do clássico texto ficcional da White Wolf, e isso só ajuda mais ainda a imersão.
Como mestre, achei também que o sistema dificulta aventuras mais estruturadas, pois com tanto poder nas mãos, os jogadores vão descobrir outras maneiras para realizar o que desejam, coisas que você jamais pensaria. É um ótimo jogo então para treinar a improvisação e deixar os jogadores tomarem o controle da história, o que eu acho bastante saudável.
Qualquer um que ache os livros de Forgotten Realms ou Eberron cheio de idéias, vão ter uma ótima surpresa lendo praticamente qualquer livro da linha do Exalted. É impossível ler o livro dos Dragon-Blooded e não ter vontade de começar uma campanha o mais rápido possível, de tão cheio de idéias e plot seeds que é.
No geral, Exalted é um sistema fabuloso, e é realmente uma pena não ter sido trazido para o Brasil pela Devir. O sistema tem muito a oferecer tanto para jogadores de outros sistemas da White Wolf como a jogadores hardcore de D&D que tenham a mente aberta para experimentar outros sistemas e, principalmente, outros tipos de aventura.
Uma ótima leitura a todos!!!
Excelente trabalho, continue assim !
ResponderExcluirsempre visito seu blog para me atualizar no rpg... e sempre me surpreendo...
Parabéns !
Obrigado bernaum, pode continuar acompanhando diariamente pois sempre tenho novidades ao dispor de todos os visitantes e aventureiros de plantão!!!
ResponderExcluirAbraço!
Obrigado pelo livro mais o link ta quebrado
ResponderExcluirPoderia concerta por favor
Des de já agradeço
Obrigado pelo livro mais o link ta quebrado
ResponderExcluirPoderia concerta por favor
Des de já agradeço